domingo, 1 de janeiro de 2012

O LIVRO QUE ME ENCONTROU


O livro que me achou



Como é maravilhoso encontramos alguém por quem sentimos carinho, que nos proporciona felicidade, conforto e alegria. Pessoas que muitas vezes nos enxergam de longe e atravessa uma multidão para nos dar um abraço e compartilhar a alegria daquele encontro. Às vezes esses momentos são raros na monotonia do dia a dia, mas quando acontece, como ficamos impactados por termos encontrado aquela pessoa.
Descobri que com os livros acontece a mesma coisa. Nada mais satisfatório para quem gosta de ler um bom livro que ter um encontro com uma dessas obras. Passei a defender a idéia de que não somos nós que descobrimos os livros; são eles que nos encontram para transformar a nossa existência. Certa feita, quando trabalhava em uma empresa de transportes Intermunicipal de Maceió alguém deixou no veículo um livro que muito me chamou a atenção. Era um livro grande com mais de quinhentas páginas sobre a vida de pessoas famosas do cinema, da literatura, da ciência entre outros. Foi o meu primeiro contato com aquela edição; vi sua capa, a quantidade de páginas, sobre quem falava e as imagens nele contida, mas ainda não era o momento de tê-lo em minha biblioteca. Outras pessoas se apoderaram do objeto alheio e cinco anos depois é que eu tive um novo encontro com aquele livro, ou ele me achou em um alfarrábio em São Paulo e desde então ele faz parte dos meus tesouros literário. 


Certa feita em minhas andanças pelo mundo conheci um homem simples que morava num lugar afastado da cidade e que era chamado por muitos de Professor Sócrates, apesar de seu nome ser José da Silva. A casa onde morava era um grande barracão, cercado de plantas diversas e lá dentro havia quase nada de mobília, mas toda a casa estava rodeada por estantes  simples colada as paredes repletas de livros. Perguntando sobre sua família ele esboçou um tímido sorriso e segredou que tinham ido embora; só os que ficaram eram seus enquanto vida tivesse. Os livros.


“De janeiro a janeiro toda vez que acordo eles estão lá. Amanhecem e anoitecem comigo. Compartilham do frio, do calor, das festas do ano e passam pelo mesmo momento que eu quando o ano estar para acabar. Conheço cada um deles porque já li e reli várias vezes, mas toda vez que abro um me surpreendo com determinados trechos que eu nem atentei quando o li algum tempo atrás. Diferente dos humanos, os livros são assim; estão sempre nos surpreendendo com coisas boas,” disse-me o Sr. Sócrates, como prefere ser chamado naquela tarde quente de verão paulista.

Perguntado mais uma vez sobre as dificuldades de viver só no meio do nada, Zé da Silva me respondeu soprando a xícara fumegante de café recém passado: Como pode alguém sentir solidão no meio de tantos livros? Acho que eles são quem tem o que reclamar já que eu sou um só para dar atenção a tantos e eles nada podem aprender comigo...
Compartilho da mesma visão deste senhor que de forma pacata via nas coisas simples um caminho para a felicidade. Toda vez que encontro ou abro as páginas de um livro desconhecido, ele me surpreende com uma doce e poderosa mensagem. Esta semana, em minhas pesquisas, encontrei num desses livros de uma biblioteca pública um poema do autor alagoano Lêdo Ivo, intitulado ”A Passagem” que muito me tocou. Desejo que o mesmo bata a porta do seu coração. 



A passagem
Que me deixem passar - eis o que peço/ diante da porta ou diante do caminho/E que ninguém me siga na passagem./Não tenho companheiros de viagem/nem quero que ninguém fique ao meu lado./Para passar, exijo estar sozinho,/somente de mim mesmo acompanhado./ Mas caso me proíbam de passar/ por ser eu diferente ou indesejado/mesmo assim eu passarei./Inventarei a porta e o caminho/ e passarei sozinho. Ledo Ivo.
Maceió, março de 2011


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