quinta-feira, 17 de março de 2011

A CURTA VIDA DE UM PÉ DE MAMÃO

No quintal da casa onde moro, faz dois anos, nasceu um pé de mamão e aventurou-se em crescer numa terra que nada tem de adubada e pior ainda, na casa dos meus queridos pais que são inimigos declarados da natureza. Tudo o que cresce mais de um metro e que não é planta ornamental eles mandam corta. Os dias desse mamãozeiro estavam contados. O dito quintal não é lá grande coisa, nada mais que um espaço para guardar entulhos: um tanque, uma caixa d’água, no chão, o lixeiro e um pedacinho de área não cimentada onde um mato galhofa teima vez por outra aparecer só para me dá trabalho de arrancá-lo com a mão como se eu não tivesse mais o que fazer. Pois bem, neste pedaço de terra onde despejamos gordura de panela, nasceu um dia, creio que foi antes do inverno, um pé de mamão e ao seu lado um de maracujá: ambos teriam vida curta.

O tempo foi passando e eles crescendo, mas de antemão eu já sabia que aquilo não iria muito longe. Na antiga casa acontecera coisa parecida e os inimigos da natureza trataram de aniquilar o invasor. Fico pensando comigo:, como pode existir pessoas no mundo que é insensível à natureza e sente ojeriza por uma árvore? Sonho um dia ter uma casa num lugar afastado, uma chácara, onde eu possa ter todo tipo de planta e viver cercado por elas.
O primeiro a ser liquidado foi o pé de maracujá infestado de lagartas. De um só golpe suas ramagens foram separadas do pé de mamão que cresceu ao seu lado. Bastou descobrir o sexo daquele pé de fruta: ele era macho, para a sentença ser anunciada. O mamãozeiro seria cortado. O inverno chegou e o fatídico dia parecia distante. Meu protesto em favor da vida da planta de nada adiantou. Defender o pé de mamão foi o mesmo que nada e todos os dias eu o via da altura de um poste inserido na figura tristes dos tijolos descobertos do quintal sem graça. Em dia de sol forte fazia sombra e a roupa que era estendida no emaranhado de varal mal ficava exposta ao sol: Aquele pé de mamão tinha mais era que desaparecer, estava no lugar errado.

Num desses dias em que a chuva do inverno deu trégua e o sol apareceu como se fosse verão, sentei junto dele para ler um texto e a sensação não poderia ser melhor. Os frutos que não tinha eram compensados por uma quantidade de flores que deixava escapar um cheiro agradável por todo o quintal. Todas as manhãs, na hora do café eu ficava contemplando o seu porte e a folhagem que se expandia como os tentáculos de um polvo. Nessa segunda, 22 de setembro de 2009, acordei com o barulho de uma obra aqui em casa. O quintal estava sendo preparado para a construção de uma área de serviço e o pé de mamão foi sacrificado. Quem o cortou tratou de levá-lo para longe dos meus olhos. Pela janela da cozinha, resta à visão de um grande pé de coqueiro plantado no quintal de duas casas à frente de onde moro. Sorte dele; se tivesse nascido aqui não teria sobrevivido por muito tempo mesmo sendo macho e dando frutos.

Maceió 22 de setembro de 2009

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