domingo, 30 de janeiro de 2011

E JANEIRO chegou ao fim...

Quantas coisas tristes descobrimos quando chega o momento de desfazer a árvore de Natal. Não seria mais fácil ficar com ela armada o ano todo e a casa toda decorada esperando pelo mês de dezembro? Não, nossa existência é feita de normas.
Em certa ocasião, entrei em uma casa humilde do interior e deparei-me pela primeira vez com esta cena: casa de taipa, pequena, sem espaço na sala para muita gente com uma parede decorada de santos e bem ali no canto da mesma, ao lado de um oratório, uma árvore de natal compunha o cenário multicolorido daquele espaço. Não era lá uma grande árvore, dessas que estamos acostumados a ver agora nas lojas que de tão perfeitas parecem verdadeiras; não, era uma daquelas bem antiga, feita de tiras de papel laminado, ficada em uma lata de leite em pó, tamanho grande, detalhe este que observei por causa do descaso da dona da casa para com o papel que cobria a lata: Tinha uma parte rasgada.
Sala de meia parede com uma parte coberta por uma cortina de tecido barato que ia de um canto ao outro e sobre ela um varal de pisca tinha ficado ali para complementar a extravagância da humilde decoração. Era junho, época de festejos juninos e na porta da casa uma imensa fogueira trazia calor e fumaça para dentro do recinto que também estava enfeitado por bandeirinhas e balões coloridos. Ao ser interrogada sobre o porquê de não ter desfeito a arrumação natalina a octogenária senhora justificou que, não queria ter todo ano o mesmo trabalho de arrumar a sala para desfazer um mês depois. Preferia assim, “deixava a vida mais colorida”. Ficava apenas na obrigação de esperar pela data até quando fosse da vontade de Deus.
Para aquele que desarmam e guardam seus apetrechos natalinos a realidade de suas histórias não deve ser diferente aos dias vividos por aquela mulher. As profundas marcas de seu rosto, o véu branco de seus cabelos e a pobreza de sua moradia estava ali para testemunhar o quanto sofreu na vida. A decoração natalina como parte constante de sua mobília era apenas uma ilusão, uma utopia de que olhando para todos aqueles signos a vida que lhes restava fosse melhor. Como num passe de mágica, as casas que antes nos atraiam passando na porta com o brilho dos piscas e o luxo das árvores de natal, desapareceu. Em tão pouco tempo, apenas um mês, nem parece que o Ano Novo mal começou e descobrimos que as normas criadas pelo homem não passa de uma linha imaginária e que os declives da vida, os abismos, as catástrofes e os dramas que nos assolam não se permeiam por convenções humanas.
Descobrimos ainda nos primeiros dias do ano novo que os problemas indesejados do ano velho permanecem à solta procurando apenas a oportunidade de se manifestarem.
Janeiro vai chegando ao fim e acredito que este primeiro momento do ano de 2011 deixará sentimentos diferenciados por quem sobreviveu a ele. Quem pôde estar de férias e viajou, talvez sinta saudade das aventuras que viveu e sinta muito pelo tempo curto e a impossibilidade de não poder estar em outros lugares. Já outros, terão o mesmo sentimento, SAUDADE, mas não pelos momentos motivos. Falamos daqueles que mal guardaram seus enfeites natalinos e amanheceram para encarar uma avalanche de água e lama que levou suas casas, ente queridos, amigos, animais de estimação e toda uma história de vida.
JANEIRO... Será que a dor de uma perda é menor se a tragédia acontecer em agosto ao invés do primeiro mês do ano quando a multidão de votos de “Feliz Ano Novo” é tão recente e a roupa branca usada na passagem de ano nem foi lavada? Não é fácil acreditar que aquela tragédia está acontecendo em nossa história mesmo tendo prestado as devidas homenagens e oferendas para Deus ou deuses e eles nada fizeram para que as chuvas fossem amenas ao invés de tanta água que derrubou árvores, abriu caminho no meio do morro e levou a casa que construímos com tanto sacrifício. O pior de tudo foi à vida de quem tanto amávamos: essa a gente nunca conseguirá ter de volta.
Daqui a onze meses será dezembro novamente com seus encantos. O trágico é ter a certeza de que em seguida vem janeiro e suas surpresas.

janeiro de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário