domingo, 9 de janeiro de 2011

DE QUÊ ME SERVEM AS FLORES AGORA?

Chegamos ao mundo para uma temporada e desconhecemos o roteiro desta viagem. Toda nossa caminhada será envolvida em mistério desde o momento em que nascemos até o fim da jornada. O tempo da chegada, a hora e o dia será apenas um detalhe: Uns nascem num dia chuvoso; quando faz calor, frio, festa, feriado, Natal, Carnaval e muito poucos são aqueles que serão recebidos neste primeiro momento no mundo com flores. Talvez a mãe, por ser mulher receba um arranjo floral.

Na medida em que o tempo passa comemoramos aqueles anos fechados: Dez, Vinte, trinta, cinqüenta até que um dia, puft! Morremos. Ai sim tudo pode acontecer e o aquilo que nos foi negado durante toda vida aparece como uma avalanche no momento que antecede o sepultamento. FLORES. Na ausência da vida, a figura humana vira um objeto. Um pedaço de coisa qualquer. Um entulho, um obstáculo que precisa ser removido do convívio social o mais rápido possível. Um cadáver... Não há na história relatos de que algum ser humano comum tenha ficado depois de morto coabitando com os seus familiares vivos. Os humanos até se especializaram na arte de conservar alguns poucos privilegiados depois de mortos em caixas de vidro, mas tais regalias só são dadas a imperadores e humanos considerados santos.
Aos simples mortais resta o acalento das flores, um pouco de futilidade para um momento doloroso. Nesta hora, não importa o sexo, todos são contemplados com as belezas da mãe natureza.

Certo dia alguém foi a um enterro, no qual eu não pude comparecer e quando perguntei: Como foi lá? Ela respondeu: “Tinha tanta gente e ele ganhou muitas coroas de flores. Parecia um mar de rosas. Cada uma mais linda que a outra e ele ficou lindo, todo coberto de crisântemo amarelo e branco”. Que final infeliz para aquelas flores, pensei comigo. Tal qual os humanos, elas também nasceram predestinadas. Colhidas do seu lugar de origem, foram enfeitar igrejas, casamentos, andor de santo, presente de amantes entre outros, mas terminar como produto de embelezamento para defunto, é algo aterrorizante.

Passada as hora, finalmente chega o momento de levar o esquife à sua última morada e lá se vão às coroas de flores, amontoadas uma sobre as outras no carro fúnebre. Depois de tudo terminado, as que cobriam o corpo, logo apodrecerão junto com ele e as que ficaram sobre o túmulo terão uma morte lenta, expostas ao tempo, sujeitas ao dia e a noite, ao sol e a chuva, acabarão assim naquele último endereço onde ninguém quer ir parar, mas onde fatalmente todos serão obrigados a fazer um break.

Pobres flores! De que nos servem agora se para onde vamos não podemos levá-las? Passamos a vida toda chorando, em busca de sorrisos e reconhecimentos, mas só quando não há mais vida é que podemos ter um grande número de pessoas ao nosso lado, chorando por motivos diversos e, nesse caso, algumas delas não esquecem de trazer uma coroa de flores como que querendo remediar o descaso que teve para com o defunto.
De quê me serve as flores agora?

Maceió, dezembro de 2006
Alcides B. dos Santos

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