quinta-feira, 24 de novembro de 2011

2 de Novembro de 2011 – Dia de Finados



 Quem passa  na rua a visão sem empecílho dos túmulos imponentes


Novembro chegou e logo mais é Natal; mais um feriado entre tantos que temos ao longo do ano. Este, porém, é para homenagear a memória daqueles que se foram desta vida,  morreram. O assunto aqui não é bem a morte em si, o que vou fazer mais adiante, mas para falar desse dia dois de novembro e de minha primeira ida a um cemitério, eu tive que ir em três deles para fazer uma matéria, e aproveitando o blog compartilho a experiência de estar ali no meio de tantas pessoas desconhecidas presenciando o momento em que elas faziam suas homenagens aos seus antiqueridos.
Em outra ocasião, querendo fotografar o cemitério da Piedade por causa do maior número de túmulos com esculturas e que sempre me chamou a atenção quando por ali passei algumas vezes, fui impedido por alguém da administração que exigiu que eu procurasse o órgão responsável pelo cemitério e pedisse uma autorização por escrito para fazer o trabalho. Achei burocrático demais e como detesto burocracia, esperei pelo tempo certo e este dia foi justamente agora no dia de finados.


 Imagem do Cemitério Nossa Senhora da Piedade no final do século XIX 

Localizado no bairro do Prado em Maceió, este cemitério é o primeiro na área do Centro e estar na mesma avenida, Siqueira Campos, onde se encontra outro, o São José, também conhecido como “do Cajú”, bem maior que o primeiro e destinado a comunidade de baixa renda. O Cemitério Nossa Senhora da Piedade é destinado à elite alagoana e lá se encontram os túmulos de diversas figuras de elevada importância para a  história da cidade de Maceió. O dia foi de sol forte e o calor beirava o insuportável, mas a visão do muro do cemitério, pintado para a ocasião desviou nossa atenção desse detalhe e passamos pelo portão principal  junto com as famílias que para ali se dirigem afim de visitar o túmulo de seus parentes. Uma carreira de pilastras pintadas de azul com pinhas brancas e unidas por um extenso gradil não esconde de quem passa na rua tudo o que está ali dentro e bem próximo do transeunte. O muro é baixo e do lado de fora quem ali chega visualiza com surpresa a magnitude de alguns túmulos que se encontram tão perto da rua. Em comparação ao de São José, o cemitério Nossa Senhora da Piedade não é tão grande.


 Do interior da pequena capela a música sacra prepara o espírito de quem chega para mais uma saudosa visita

 A ausência de pessoas e os túmulos enfeitados revelam a antecipação da visita para o dia primeiro
  Da entrada principal já se podia ouvir os cânticos religiosos que vinham da missa celebrada na capela. O número de pessoas que para ali se dirigiam não era grande e pude constatar que muitos familiares fizeram suas visitas no dia anterior, pois algumas sepulturas estavam vazias, mas tinham os vasos com flores e marcas de velas que foram acessas. De câmera na mão, fui registrando aquilo que mais me chamava à atenção sem que a circulação das pessoas fosse obstáculo. Um reporte faz suas anotações junto ao túmulo da mulher da capa preta, entrevistando um rapaz que se encontra na parte de dentro do gradil fazendo limpeza; observo de longe e espero o momento em que ele se afasta para fotografar o túmulo e nem dou conta de que as horas tinham passado e ainda faltava fazer imagens de outros dois cemitérios afastados daquele.



 Dentre os túmulos de mulheres existente neste cemitério o de Carolina Sampaio Marques com certeza é o mais intrigante. Verdade ou lenda, na singela sepultura se encontra uma capa posta sobre uma cruz que reforça a história do rapaz que encontrou uma jovem num baile e voltar com ela para casa a mesma teria pedido a ele que a deixasse próximo ao cemitério. Ele então teria dado a ele a capa que usava. Ao procurá-la no dia seguinte, descobriu pelo endereço que ela lhe dera que a mesma era morta.
Noto que em ambos os cemitérios é grande o número de crianças com latas d’água na mão se oferecendo para limpar sepultura. Alguns são tão pequenos que mal devem ter sete anos e entre meninas e meninos também trabalham  adolescentes que dividem com os adultos as tarefas de zelar pelos jazigos.
Mas sou atraído pela monumental obra de arte e os elaborados detalhes em mármore de carrara de alguns poucos jazigos que de longe se destacam na paisagem revelando o bom gosto de quem os mandou produzir e o desejo de ostentar depois da morte o luxo que teve em vida. Mais uma vez surge por entre túmulos menores e inexpressivos a figura feminina talhada no mais branco mármore ornamentando aquela última morada. O passar dos anos e o desgaste do tempo é apenas um desafio para as gradiosas esculturas que por um momento nos faz crer tratar-se de um ser humano debruçada sobre aquele túmulo chorando a perda do familiar querido. 




 A mulher que chora sobre o túmulo segurando uma coroa de flores


01 - Prostrada de joelho e coberta por um manto branco com uma mão ela segura as flores que enfeitarão o jazigo enquanto a outra esconde o rosto e a dor que sente


Mausóleu da família Teixeira Bastos

Apontar a câmera para elas é descobrir que um só clic será pouco para retratar a quantidade de detalhes que saltam à visão do conjunto da obra. As estátuas do cemitério da Piedade parecem ter vida e por todos os lados que as olhamos, desejamos flagrá-las em uma posição diferente mesmo cientes de que elas são pedras sem vida. Este é o caso do mausóleu da família Teixeira Bastos, onde a figura de uma mulher ajoelhada parece chorar debruçada sobre um genoflexo e o da família Almeida Guimarães que outra figura feminina está sentada olhando para cima segurando um feixe de vime. De tão próximas uma da outra, às duas estátuas as vezes parecem fazer parte de um mesmo cenário dependendo da posição de onde você as observa. 


A mulher segurando o fecho de vime


1A
Em outra ocasião darei continuidade ao relato de como dei conta de percorrer três cemitérios fotografando para uma matéria e o que mais me chamou a atenção nesse trabalho. Uma segunda parte do cemitério da Piedade vem em seguida porque é grande a quantidade de imagens e detalhes existente neste campo santo.


 2A
Para fechar esta nerrativa aproveitando a oportunidade em que estamos falando de esculturas feminina, pesquisando esta semana no Museu da Imagem e do Som de Maceió encontrei um arquivo de fotos sobre as esculturas desse cemitério e o que mais me chamou a atenção foi a estátua de um outro túmulo que eu não vi naquele dia. Trata-se de uma mulher que nasceu no século XIX e faleceu em 1913 e que provavelmanete era alemã residindo em Maceió;  seu nome, Beatrice Koechli Erzinger e a imagem esculpida em sua lápide é de uma perfeição chocante.


 3A







5A

As imagens, 01, 1A ,2A, 3A, 4A, 5A  fazem parte do Acervo do Museu da Imagem e do Som de Maceió - MISA


4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Caro Alcides,
    Descobri o seu blog ontem.
    Adorei.

    A sra. Beatrice Erzinger Koechli é minha avó!

    Muito obrigada.

    Mônica Arpin

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  4. Quando passo pelo cemitério da Piedade me encanto com as esculturas que lá estão: cruz com capa, colunas gregas quebradas, anjos... Mas a imponente mulher chorando se destaca. Parabéns pela matéria!!!

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