sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Os Veranistas da Praça Sinimbu



 O turista que vem a Maceió e do comércio segue em direção a praia da Avenida encontra uma praça ali próximo ao mar chamada Sinimbu. Fundada no começo do século XX, foi durante algum tempo um belo cartão postal da cidade. Com o passar dos anos e várias prefeitos, cada um com o seu gosto de remodelagem pública, a praça perdeu elementos que antes figuravam em seu contexto histórico adquirindo o formato que tem hoje: Um labirinto de árvores encobre caminhos de paralepipedos. Grandes recipientes em formas de bacia fincados no chão sobreviveram às gerações de prefeitos, mas o que neles hoje é plantado em nada lembra o jardim das antigas imagens.
Na medida em que o tempo foi passando a praça foi perdendo os adereços que lhe dava graça e beleza: Ao seu redor, o monumental prédio da Companhia de Bondes que ali funcionava onde hoje está à antiga Reitoria, teve sua fachada totalmente descaracterizada assim como o prédio da Escola de Artes e Ofícios que compõe o mesmo conjunto arquitetônico.
Desapareceram as esculturas fincadas ali em seus primeiros momentos; o obelisco, o coreto que era conhecido pela alcunha de pagode Chinês e que tinha ao seu lado a estátua de Mercúrio, que hoje se encontra no holl da Associação Comercial de Maceió. Até o riacho Salgadinho que corria solto ao lado da praça e passava por baixo da Ponte dos Fonseca, foi desviado e a referida ponte tornou-se um elemento apagado no contexto da cidade. De tudo o que perdeu a praça só não se desfez da estátua de seu homenageado, o Visconde de Sinimbu que até hoje, século XXI, continua lá, imponente com a mão direita dentro da casaca contemplando as arrobas do tempo moderno.


 No período das aulas do Espaço Cultural da antiga reitoria, o movimento de carros e alunos é constante, mas a praça para mim sempre teve aquele ar de insegurança e abandono. Durante o dia, transito por suas imediações sem me preocupar com nada, mas quando escurece não me sinto seguro se por ali estiver. Bem de frente ao alojamento estudantil se encontra uma parada de ônibus que vão para um shopping da capital e nem sempre há a presença de outros passageiros neste ponto o que nos deixa bastante ansioso.
Vez por outra, a caminho do referido shopping, o ônibus em que estou chega à praça e descubro surpreso, não sei por que toda vez este fato me surpreende, que a praça está tomada de gente vinda de fora. São os moradores temporários que chegaram para mais uma estadia ali. Vieram em busca de uma negociação que não será resolvida em dias. São agricultores oriundos dos mais diversos lugares do Estado em busca de novas reivindicações para seus problemas com a terra. São os veranistas da Praça Sinimbu.
Em outra parte deste logradouro se encontra a sede do INCRA e como as negociações não será resolvida da noite para o dia, o mutirão, composto por adultos e crianças acampam sem a maior cerimônia não se intimidando com os transeuntes que trabalham ali perto ou os que estão ali apenas para pegar o ônibus.
Passada uma semana o choque da primeira visão dá lugar a uma tolerância mais do que harmoniosa. Ao longo do ano aquela cena se repetirá quase que a cada três meses, para ser um pouco modesto. As dificuldades da chegada se resolverão com os paliativos existentes no local. As cabanas de plástico escuro terão estrutura de madeira formado de uma mine casa se o impasse demorar a sair. A higiene dos moradores não se configura um problema, pois a municipalidade disponibilizara os banheiros químicos e a água para o banho e o cozimento de alimentos será arranjada no cano de um imóvel fechado. A fumaça de pequenas fogueiras feitas nos espaços vazios para preparar a comida, se expande na praça, por entre as construções toscas do plástico negro onde crianças de tamanhos variados curtem o momento de uma situação que os adultos criaram para elas.

Depois de certo tempo, sem mais transitar por ali, descubro um dia que a praça voltou a ser como antes. Os veranistas foram embora e o espaço que ocupavam ficou assim, vazio, a esmo sem muita utilidade. Os troncos das árvores perderam os varaus de roupa e não mais segura uma frágil cabana. A terra desocupada ficou rasgada como marcas de estrias pelos cortes feitos para escoar a água da chuva e dos pratos lavados. Um tímido galho de planta florido restou ao pé da estátua de Sinimbu que apareceu como num passe de mágica depois que as lonas negras foram retiradas do teto das casas revelando o pedestal e a figura do ilustre alagoano. O banheiro químico, o cheiro, e a alegria daquelas crianças que vieram de longe para uma temporada na capital, desapareceu. A praça voltou a sua monotonia constante. Os garis com muito pouco para limpar, os religiosos e suas costumeiras pregações ao meio dia, os transeuntes que passam de um lado para outro e a minha desconfiança de que ali não é um lugar seguro para ficar depois que escurece.

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