O trem de minha infância foi embora
Levado pelo tempo que um dia
o trouxe até aqui.
Mal o dia clareou
e ele passou em nossa porta
com seu apito estridente
acordando quem ainda queria ficar na cama.
Tudo estremecia com a passagem daquele trem.
Partiu levando lembranças
de uma infância que não volta mais.
O trem de minha infância partiu
E deixou para trás desenhos de fumaça no ar
Que se juntou as nuvens
desenhando no céu a palavra
Adeus ...
Eu; tão pequeno, em pé na cadeira, na janela,
fiz o mesmo ritual de todos os dias;
acenei para o trem e os desconhecidos que ele levava
crente de que logo ele voltaria com mais gente
e me despertaria com o seu apito novamente.
O trem de minha infância partiu
Sem que eu soubesse de sua morte decretada.
O tempo passou, esperei pelo trem, esperei, esperei e nada...
Adormeci no sofá da casa de minha avó, junto à porta
Para não perder a passagem do trem quando ele voltasse.
Mas eu estava tão enganado: não sabia que o trem
Foi embora para nunca mais voltar.
O mato tomou conta de tudo e a linha foi aos poucos
Perdendo seu traçado na terra onde antes se deitava.
Hoje, no lugar por onde passava o trem
fizeram casas e ali mora um monte de gente:
Será que eles não têm medo de uma hora dessas
O trem volta?
Maceió, março de 2010,
Alcides B. Santos
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